quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

I remember it well

Bom, a primeira vez que eu te vi. Quando foi mesmo? Ah, sim. Primeiro dia, primeiro horário, sala de aula. Te vi sentada na última carteira fazendo algo que nenhum dos outros 37 alunos ali presentes estava fazendo: prestando atenção na aula. Realmente prestando atenção, sabe? Você tinha até aquela ruguinha na testa que você tem quando está concentrada. E você tinha aquele cabelo curto e bagunçado com essa franja que insistia em cair por cima dos seus óculos. Sim, você usava óculos e aparelhos e all stars. Sei que você não gosta de lembrar desse seu estilo, digamos assim mas eu me lembro. Afinal, como eu poderia esquecer? E como eu poderia resistir? Você estava tão fofa naquele dia. 

Eu sei, eu sei. Fofa não é exatamente um dos adjetivos que as garotas gostam de ouvir, mas fazer o que se foi a primeira coisa que veio em minha mente? Nunca fui bom com adjetivos. Para falar a verdade, nunca fui muito bom com as palavras. Esse, como todos nós sabemos, sempre foi o seu dom! Eu fazia contas, consertava coisas, contava piadas e gostava de cozinhar.

Então por me faltar palavras, ou por outras razões, sempre achei que você deveria ser transformada em um adjetivo, um que fosse sinônimo de perfeição ou algo assim. Como alguém poderia ser tão angelical e ao mesmo tempo ter essa chama incandescente no olhar que liquidava com a minha capacidade de falar. Eu, que sempre fui o "fanfarrão" da turma, travei completamente após te dizer o primeiro "oi". Mas não me culpe. Por favor, não me culpe! Foi você que estava com aquela caneta na boca e aquele perfume só seu, uma mistura perfeita entre algo doce e forte. Eu só queria ficar ali te olhando e sentindo aquele cheiro. 

Mas ai você balançou as mãos na minha frente e me perguntou se eu precisava de ajuda. Eu não sei, eu precisava? Eu havia esquecido completamente como funcionava todo esse lance de se comunicar, usar as palavras... transformá-las em frases então, nem pensar.

Quando finalmente me recompus, perguntei se você estava indo para Calculo II naquele momento e você confirmou, Logo perguntei se poderia levar suas coisas para você. Uma expressão estranha cobriu seu rosto. Parecia que você estava entre surpresa e ofendida, mas quando respondeu que sim, eu poderia carregar suas coisas, eu sabia que essa resposta iria mudar todo a minha semana, talvez até a minha vida, de alguma forma.

Conversamos sobre tudo e nada durante todo o caminho até a sala, entretanto quando chegamos você agradeceu a ajuda e sentou-se em sua carteira habitual. Resolvi me sentar em minha carteira habitual também, mas se antes eu já não prestava atenção em Calculo II, hoje o professor não estava conseguindo conquistar nenhum segundo da minha atenção. Eu fiquei te admirando durante 1 hora inteira. Viu o que você fez comigo?

É eu confesso, naquele semestre eu posso ter te perseguido um pouco, porque, convenhamos, você era bastante difícil, mas nunca me arrependi. Deu trabalho, mas conquistei sua amizade aos poucos e conquistei também algo extremamente valioso para mim e que até hoje eu luto para manter aquecido e forte todos os dias: o seu amor. 

(...)
Trecho dos votos de casamento escritos por P para C, em 2001.

2 comentários:

  1. Olá,
    Uau, que voto de casamento lindo. Nossa, eu confesso que nem sempre as coisas terminam desse modo e eu sou prova viva disso, mas a vontade de que dê certo ainda é maior que tudo. Adorei <3.
    Beijos.
    Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com

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  2. Que legal, você tem esse texto completo em algum lugar? Adorei!

    Beijos!
    Belle Hendges

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