quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

why'd you have to wait to find me?

Um verdadeiro ato de bondade. Era tudo o que ele precisava encontrar. Não seria tão difícil, não é mesmo? Em um lugar povoado com bilhões de habitantes, seria como "tirar doce da boca de criança" (fazendo referência a uma expressão comumente utilizada entre eles). Finalmente ele teria seu desejo realizado. Asas... como será a sensação de finalmente possuí-las? Imaginou a liberdade. Poderia desbravar os quatro cantos da galáxia, poderia presenciar os momentos mais mágicos, sem falar na infinidades de contribuições que poderia trazer para seu trabalho. Era chegada a sua vez! Cumpriria sua missão e voltaria para casa, se assim poderia chamar o local em que normalmente passava suas horas, horas que para ele significavam apenas uma pequena fração da eternidade.

Pegou a mochila que carregava e a pequena folha na qual havia escritos os locais que visitaria para dar início a sua busca. Uma casa antiga e atrativa na qual se encontrava um aviso que dizia "todos são bem-vindos" chamou sua atenção e resolveu que tentaria ali encontrar um local para dormir e alimentar-se. "Mataria dois coelhos com uma só cajadada", pensou. Ele estava realmente começando a se habituar com os famosos ditos populares desse pessoal. Sorriu ao reparar que estava de bom humor.

Ao entrar na casa notou que havia ali pessoas muito bem vestidas ouvindo atentas o discurso de um velhinho simpático, que ao notar sua presença se calou. Os olhos da audiência acompanharam os do velhinho e julgamentos começaram a serem nascer em cada olhar. Ele se sentiu envergonhado, não soube por quê, afinal nunca havia sentido tal sentimento. Até que uma voz se levantou sobre as outras e declarou em alto e bom som que ali não era lugar para pessoas como ele. Ao olhar para si mesmo vestido em trajes simples, roupas puídas e manchadas, e com o corpo coberto por tatuagens, não entendeu a colocação daquela pessoa e perguntou se poderiam conseguir um local para que ele descansasse e comesse. O velhinho pediu que ele saísse imediatamente e que pensasse seriamente nas suas ações. Confuso, ele deixou a casa e saiu a caminhar e pensar em como um lugar no qual "todos são bem-vindos" poderia não tolerar sua presença.

Continuou a andar por horas e horas e tudo o que viu foram portas sendo batidas em sua cara. Uma jovem que passava lhe disse que são tempos difíceis e por isso ninguém em sã consciência concederia um teto para alguém como ele, afinal nunca se sabe. Novamente, ele não entendeu o que ela quis dizer. Estaria ele com dificuldades de compreensão do idioma ou tinha um pensamento demasiadamente inocente?

Após dois dias já começou a pensar em desistir. Asas não são grande coisa, não é mesmo? Muitos não as têm e se viram bem por aí. Sentou-se em um banco de praça e poe-se a refletir. Alertaram-lhe que não seria uma tarefa fácil, mas a fé dele era mesmo maior. Acreditou que encontraria traços do bem aqui deixado há milênios atrás em algum desses seres, mas os donos dos passos que caminhavam rápidos pela praça e dos olhares que nunca se cruzavam pareciam ter seus corações congelados. O que havia acontecido?

 De tanto pensar, adormeceu. 

Ao abrir os olhos deparou-se com um menininho que o observava bem de perto com metade de um pão na mão. O menino sorriu e perguntou-lhe se tinha fome. Sem ao menos esperar por um resposta, repartiu o pão e entregou-lhe metade. Seus olhos brilharam quando ele aceitou o pedaço oferecido e começou a comer. "Se quiser pode dormir melhor debaixo da minha árvore", disse o menininho. "Você tem uma árvore?", ele rebateu sorrindo. "Tenho. Tem um ótima sombra. Posso dividir com você", respondeu o menino. 

Ele não conseguia acreditar. Não era possível! Nem tudo estava perdido, no fim das contas. Ele havia encontrado uma faísca.
You Found Me by The Fray on Grooveshark

8 comentários:

  1. Que lindo! A verdadeira bondade é rara de se encontrar hoje em dia
    http://reflexoesdaminhamentedoida.blogspot.com.br/

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  2. Seus textos são lindos, você podia pensar em publicá-los um dia! Heheh

    Beijos,
    Belle Hendges

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  3. Fiquei confusa durante o texto, mas no final, vi uma faísca de compreensão e penso eu que acabei por entender todo o resto <3 adoro muito o jeito que vc escreve. beijos. Tudo Tem Refrão

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  4. Obrigado pela visita Dannie, e feliz ano novo pra você ^^
    Você escreve muito bem, e a música então fechou o pacote. Acredito que futuramente você vai estar publicando seus textos, eles merecem.

    Um abraço

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  5. Que texto mais lindo! Hoje em dia é mesmo tão complicado encontrarmos bondade, pessoas dispostas a ajudar, uma pena. Outro ponto muito bacana que você tocou é essa questão da aceitação, poxa, todo mundo é muito diferente e já passou da hora de começarmos a aceitar isso, né. Belíssimo texto! Numa escrita leve e simples você conseguiu botar a gente pra pensar. :)

    Beijinho! ♥ Primeiro Livro

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  6. Eu AMO Divergente. Tanto o livro qnto o filme. Mesmo tendo mudanças comuns em adaptações, continuo amando!
    Amei tbm conhecer seu blog. ^^ Gostaria de seguir para não perder mais nada, mas não encontrei o local para faze-lo.

    Bjoos

    http://aquelaepifania.blogspot.com.br/

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  7. Obrigado por me arrancar algumas lágrimas, e olha que agora que o dia está começando. :/

    Me identifiquei bastante com o teu conto porque eu sou semelhante ao menino que ofereceu ajuda: quando vejo que alguém está precisando de algo, lá vou eu perguntar e oferecer apoio. Infelizmente, o número de pessoas bondosas/caridosas está diminuindo, mas não podemos perder a fé, certo?

    Adorei mesmo o texto. E o que dizer da música do The Fray? <3 "You found me" é uma das minhas preferidas depois de "How to save a life".

    Bjs!

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  8. Eu também acho que você deva adotar a TBR Jar pra sua vida literária . hahaha e claro, lembrando que nunca deve enfiar os papéis em lugares impróprios ;)

    Beijos. Tudo Tem Refrão

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